quarta-feira, fevereiro 10, 2010

Amor - parte II

É uma história antiga
Que principia no ventre
Acompanha cada segundo do existir
E pode existir eternamente

E como as faces são únicas, é único o jeito de amar
E único é a forma de o entender
Mas o sentimento vem me visitar algumas vezes

E diz que a vida é feita de amores
Pequenos e grandes
Longos e efêmeros

Minha vida é contada apartir dos amores que vivi
No amor incondicional por aqueles que me acolheram e chamaram de filho
Por aqueles que com quem compertilhei amor e me chamaram irmão
Laços que obrigam a suportar, mas que cresceram e evoluiram

Não existe escolhas ou vontades
Mas basta aproximar os corações para sentir a infinitude do amor

E tem esse amor tanta força
Que carrega uma energia capaz de suportar tantos desafios

E mesmo a ausencia da racionalidade
É incapaz de explicar o sentir
Que carrega a força de ser parte de algo maior

Sentir que não existe solidão
Que é indiferente o que se é
Que existe compreensão
Mesmo que seja o oposto de tudo

Tem a familia
O poder de amar
Sem exigencias
Guardiã do primeiro amor

quarta-feira, fevereiro 03, 2010

Eu encarei ela de frente
Ela não recuou, franziu o rosto e falou alguma coisa
Eu balancei a cabeça negativamente
Nunca soube o que ela disse
Nunca quis saber

Fiz sinal pra ela me acompanhar
Virei as costas e andei, não olhei pra trás
Fui até qualquer onde eu conseguia ouvir meus pensamentos de novo
Chamei o garçom e peguei uma ceva
Já tava bebado afinal, mal não ia fazer
Deixei o balcão e me virei pra pista

Dei de cara com a mina
Perguntei pra ela o que ela queria
Ela disse que quem queria alguma coisa era eu
Fiquei surpreso por ela ter me acompanhado

Fiquei em silencio
Olhei pra ela de cima a baixo
Encarei os olhos dela
Novo silencio

Ela ficou me olhando, confusa
Fumando seu gudan nervosamente
Perguntei se ela tinha namorado
Ela disse que não
Perguntei se ela tinha problemas com o pai
Ela disse que eles eram super amigos

Eu olhei pra ela
Não vai rolar
Tu é muito bonita
Não tem ninguém pra se vingar nem necessidade de decepcionar teu pai
Ela ficou sem saber o que fazer
Perguntou se funcionava essa cantada

Eu disse que não era cantada
Que eu desisti, que ela não tinha perfil
Eu disse que o melhor pra todos seria ela voltar pras amigas e esquecer nossa conversa

Me chamou de idiota e deu as costas
Mas voltou e perguntou o motivo de eu não querer trová-la
Eu disse que mulher gosta de cara saradão
Eu sou inteligente
Eu disse que infelizmente mulher é superficial
Que não era machismo, era constatação
Que eu conseguia entender o raciocínio feminino
E que precisei de duas frases pra saber que ela gosta de fortão, burro

Por isso ela podia ir embora
Que eu não cantar ela
Ela se irritou e disse que eu tava enganado e não sabia do que eu tava falando

Eu dei um longo suspiro
Ela me xingou e questionou se ela tava me incomodando
Eu disse que ela tava agindo como se fosse minha namorada e as outras minas primeiro iriam querer ficar só pela sacanegem, mas depois iriam acaba me chamando de canalha por cantar outras minas na frente da minha namorada

Ela me olhou e perguntou se eu achava ela idiota
Eu disse que não, mas certamente achava ela previsivel
Eu disse que se eu pedisse um beijo ela iria negar, porque eu não preenchia o perfil de burrão
Ela disse que eu só saberia se eu perguntasse

Eu rí
Disse ok
E perguntei se ela me daria um beijo se eu pedisse
Ela disse que sim
Eu olhei pra ela
Segurei o rosto, disse talvez eu peça depois então
E fui embora

Mas voltei, e beijei ela
Ela também me beijou
E passamos algumas horas juntos
Perguntei se ela me beijaria se eu tivesse pedido na pista de dança
Ela disse que não
Ela tava flertando com um saradão

Ela me deu o telefone
Nunca liguei
Me apaixonei por uma gordinha de óculos tão nerd quanto eu
E a gente se diverte discutindo política

Que as bonitonas fiquem com os bonitões
E que as mulheres de verdade fiquem com caras que nem eu

Porque Eu Insisto Se Ninguem Se Importa?

Eu passei horas tentando te contar o que eu quero. Tentando que cada palavra fosse escrita no lugar certo. Que o texto ultrapassasse o sentido de ordenação interessante de palavras e tivesse uma força que fizesse impacto e digno de necessidade de imaginar, sentir, entender a beleza sutil, porém suprema, quando um ser-humano resolve que a folha branca capte não um sentimento particular, uma verdade política ou alguma ironia sobre o dia-a-dia. Mas que o papel participe como companhia, confidente, amigo e testemunha. Que no papel restasse apenas o desabafo, e a prova final e irrefutável de que naquele quarto escuro no meio de um cortiço qualquer num bairro decadente entre o concreto que se impõe escondendo o horror dos gritos de desespero, inventando realidade confortável para alguns e sufocando a maioria dos infelizes incapazes de enfrentar o óbvio e aceitam qualquer ilusão que desvie a mente da tortura infligida diariamente. Um detalhe inofensivo incapaz de ser percebido invocou a névoa mística da genialidade, por alguns minutos o poeta escreveu, venceu a arrogancia desafiadora do papel em branco. Transformou as palavras em sentimentos, conseguiu desvendar o enigma que jazia na solidão do papel, enfim alcançou aquilo que sempre desejou. Detalhes, momentos, segundos talvez. Uma vida inteiro insistindo, procurando. Alguns segundos apenas. Palavras conhecidas, estudadas, comuns. Alguns segundos, e todas sensações descritas através da ordenação mais bonita.